QUEM SOMOS
Nós, Catadoras de Mangaba, somos grupos tradicionais habitantes de áreas de restinga e historicamente desenvolvemos o extrativismo da mangaba e demais recursos da restinga e dos manguezais como forma de subsistência e reprodução cultural. Somos predominantemente descendentes de quilombolas, caiçaras e sitiantes. Catamos mangaba em nossas propriedades familiares ou em áreas de uso comum.
Desde a região estuarina de encontro e de foz dos rios Real e Piauí, no Litoral Sul do Estado de Sergipe e limite entre os municípios de Santa Luzia do Itanhy, Indiaroba e Estância, até a foz do Rio São Francisco, município de Brejo Grande, no litoral Norte do Estado de Sergipe, são observados grupos de Catadoras de Mangaba que realizam a comercialização de frutas tropicais in natura, beneficiadas e processadas sob as formas de doces, balas, compostas, geleias, biscoitos, bolos, sucos, polpas de frutas, licores etc., em uma infinidade de sabores devido à diversidade de frutas tropicais encontradas na região.
Além da mangaba, desenvolvemos receitas com outras frutas da restinga, como araçá, murici, cambuí, e com frutos dos quintais, como goiaba, manga, caju, abacaxi e maracujá.
Atualmente, alguns destes produtos são comercializados diariamente em pontos de vendas distribuídos no litoral do Estado de Sergipe e também via políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ambos previstos na Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, além de serem comercializados em eventos turísticos.
Através da inclusão de bolos, biscoitos, frutas in natura, polpas de frutas e doces nos cardápios da alimentação das escolas, conseguimos contribuir com uma alimentação saudável para os estudantes da rede pública de educação de cinco municípios do litoral e dos tabuleiros costeiros sergipanos.
Contudo, enfrentamos problemas, pois a degradação das áreas de ocorrência natural da árvore mangabeira percorre em um caminho que pode causar sua extinção, principalmente em decorrência dos impactos causados pelos cultivos de cana-de-açúcar, milho e eucalipto, criações de camarão e empreendimentos imobiliários.
Esse triste cenário é apresentado na publicação intitulada Mapa do Extrativismo da Mangaba em Sergipe: situação atual e perspectivas, publicado pela EMBRAPA no ano de 2017, o qual demonstra o ritmo acelerado de redução das áreas de extrativismo no Estado de Sergipe.
Há 17 anos nós vivemos um processo de mobilização política para garantir o acesso às áreas nas quais praticamos o extrativismo. Assim, temos contado com o apoio de diferentes instituições governamentais e do terceiro setor. Nossa principal luta é pela criação de unidades de conservação que nos garantam o extrativismo em áreas de restinga. Nossa prioridade é a criação das Reservas Extrativistas distribuídas pelo litoral do Estado.
Atualmente, a estrutura de processamento de alimentos das Catadoras de Mangaba conta com cinco unidades produtivas que foram instaladas durante a execução do Projeto Catadoras de Mangaba Gerando Renda e Tecendo Vida em Sergipe, desenvolvido pela Ascamai, entre os anos de 2011 e 2015, com o patrocínio do Programa Desenvolvimento e Cidadania da Petrobras. Essas unidades de processamento apresentam estrutura e condições higiênico-sanitárias adequadas à produção de alimentos saudáveis e com qualidade assegurada. Durante este processo, o Projeto Catadoras de Mangaba Gerando Renda e Tecendo Vida em Sergipe também contribuiu com processos de formação em Agroecologia, Tecnologia Social, Boas Práticas de Fabricação de Alimentos, Processamento de Frutas Tropicais, Associativismo, Comunicação e Economia Solidária.
Desde o ano de 2015, as atividades de assistência técnica são proporcionadas pelo Projeto Casa da Mangaba, desenvolvido pelo Instituto Pangea – Meio Ambiente, Cultura e Educação com patrocínio do Instituto Afrânio Affonso Ferreira (IAAF), e entre os anos de 2018 e 2020 o Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, também desenvolvido pela Ascamai com o patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, contribuiu com novos processos de formação em Agroecologia, Processamento de Alimentos, Cursos Profissionalizantes e Artesanais, e Educomunicação, além de proporcionar a instalação de cinco Viveiros Agroflorestais Comunitários, que contribuirão com o reflorestamento das áreas de restinga com espécies nativas da Mata Atlântica.